Epílogo.

Clara Dantas
2 min readMar 6, 2023

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Seguia com a constante sensação de estar vivendo um epílogo.

Um bônus com capítulos extra de uma história que podia ter acabado em novembro de 2020, em meio a uma pandemia e surtos psicóticos — provocados pela combinação entre traumas novos e antigos.

Na ocasião, por mais que sentisse que o desfecho estava próximo, a autora não teve forças para concluir seu enredo.

Se isso foi por falta de coragem ou pelo excesso dela, ninguém saberia afirmar.

Imagem meramente ilustrativa, encontrada aqui.

Por mais que esse fim tivesse sido evitado, o anseio por uma conclusão continuou perseguindo-a, tão próximo quanto uma sombra, sempre rugindo em seus ouvidos.

Percebeu-se, então, obcecada pela ideia de ter um final, crendo que o encerramento de tudo fosse lhe proporcionar uma grandiosa catarse, capaz de justificar todo o sofrimento passado e de enfim libertá-la.

Quando pensava nisso, inevitavelmente as lágrimas caíam, denunciando a força de sua expectativa.

Mas e se não houvesse nenhuma explicação? Se tudo não passasse de uma sequência de eventos aleatórios?

E se sua pele, sua eterna prisão, se partisse ao meio e não existisse nada embaixo dela? Nenhuma alma, nenhum propósito…

A fim de permanecer na superfície, longe desses medos profundos, limitou-se a admirar suas recentes conquistas, como se cada dia fosse um episódio a mais de sua série favorita.

Consequentemente, à medida que uma outra temporada se iniciava, a autora notava certo desenvolvimento em si mesma, sua própria protagonista.

E é desta forma, meus caros, que uma quase suicida continua a vida.

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