Epílogo.
Seguia com a constante sensação de estar vivendo um epílogo.
Um bônus com capítulos extra de uma história que podia ter acabado em novembro de 2020, em meio a uma pandemia e surtos psicóticos — provocados pela combinação entre traumas novos e antigos.
Na ocasião, por mais que sentisse que o desfecho estava próximo, a autora não teve forças para concluir seu enredo.
Se isso foi por falta de coragem ou pelo excesso dela, ninguém saberia afirmar.
Por mais que esse fim tivesse sido evitado, o anseio por uma conclusão continuou perseguindo-a, tão próximo quanto uma sombra, sempre rugindo em seus ouvidos.
Percebeu-se, então, obcecada pela ideia de ter um final, crendo que o encerramento de tudo fosse lhe proporcionar uma grandiosa catarse, capaz de justificar todo o sofrimento passado e de enfim libertá-la.
Quando pensava nisso, inevitavelmente as lágrimas caíam, denunciando a força de sua expectativa.
Mas e se não houvesse nenhuma explicação? Se tudo não passasse de uma sequência de eventos aleatórios?
E se sua pele, sua eterna prisão, se partisse ao meio e não existisse nada embaixo dela? Nenhuma alma, nenhum propósito…
A fim de permanecer na superfície, longe desses medos profundos, limitou-se a admirar suas recentes conquistas, como se cada dia fosse um episódio a mais de sua série favorita.
Consequentemente, à medida que uma outra temporada se iniciava, a autora notava certo desenvolvimento em si mesma, sua própria protagonista.
E é desta forma, meus caros, que uma quase suicida continua a vida.