Criando um lar.

Clara Dantas
2 min readJul 7, 2022

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Eu já morava sozinha. Ela, vivia sob o mesmo teto dos pais. Decidimos, então, dar forma a uma nova vida — juntas, como sempre gostamos de estar.

Mudamos de cidade. Trabalhamos duro. Passamos alguns perrengues. Nenhuma destas fases difíceis merece ser romantizada.

Depois de meses dependendo da generosidade familiar, conseguimos nosso próprio canto. Vazio, mas ainda assim, nosso.

Aproveitamos alguns de meus móveis, só que não era o suficiente. Os resquícios do antigo apartamento não conseguiam dar suporte a uma recém-criada rotina de casal.

Imagem meramente ilustrativa, encontrada aqui.

Seguimos nossa jornada, realizando aquisições mais lentamente do que gostaríamos. Foi aí que identifiquei um padrão:

A grande maioria dos objetos que chegavam à nossa morada apresentava algum defeito. Quase que como um teste de paciência.

Dentre os usados: a geladeira, além de possuir um congelador um tanto quanto temperamental, trouxe uma pequena população de baratas de brinde, em seu interior; as bocas do fogão tinham vontade própria e seu forno, nem isso; o sofá, apesar de muito confortável, veio manchado, com seus pés enferrujados e desparafusados; o conjunto de mesa e cadeiras possuía uma aura rústica, digamos assim, considerando as inúmeras rachaduras na madeira; e o rack, de repente, como se protestasse por uma sala mais aconchegante, começou a descascar. Até mesmo a fritadeira elétrica, que compramos completamente nova, chegou com arranhões.

Tudo isso sem mencionar nosso chuveiro, cuja saga da procura à instalação é tão complexa que poderia ser descrita não apenas em um parágrafo, mas sim ao longo de um livro inteiro.

Piadas à parte, o que quero dizer é: criar um lar exige resiliência. As coisas definitivamente não saem conforme o planejado. A estética continuamente limpa, organizada, intocável e impecavelmente decorada foge à realidade crua, pertencendo apenas aos cenários de novela.

O valor dessa experiência se manifesta a cada conquista compartilhada. Momentos que não se repetem e que são primordiais para o estreitamento de um laço — já fortemente amarrado, diga-se de passagem.

Esperamos, claro, alcançar um patamar de qualidade de vida cada vez melhor, com menos preocupações e desarranjos. Até lá, celebramos a companhia uma da outra, rindo descontroladamente diante dos obstáculos.

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Natal, 07 de junho de 2022.

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