Cansei do marketing.

Clara Dantas
7 min readJul 4, 2023

Nota inicial: Este texto foi escrito entre junho e julho de 2023.

Estou avisando porque, com o crescente avanço da tecnologia, as coisas ficam ultrapassadas rápido demais. Por isso, é importante localizar estes meus pensamentos no espaço-tempo.

Antes de continuar lendo, saiba que isto aqui é uma retrospectiva pessoal carregada de reflexões e desabafos. Talvez você até se identifique, mas não há nenhuma solução mágica como conclusão.

Ok? Ciente? Então vamos lá.

Em 2016, aos 21 anos, concluí um Bacharelado em Comunicação Social, com linha de formação em Educomunicação. Eu não tinha ideia de como iria me inserir no mercado, pensava apenas em seguir carreira acadêmica.

No entanto, depois de algumas tentativas frustradas de ingressar em um mestrado, comecei a trabalhar, em 2018, como Assistente de Marketing em uma software house local. Em menos de 1 ano, dada a minha facilidade com textos (até porque cultivo o afeto pela escrita desde a infância), recebi uma proposta para me tornar Redatora de uma agência de marketing. Aceitei.

Esta foi minha sincera reação ao ingressar para o mundo das agências, como aquela típica aprendiz que sonha em planejar uma peça ou campanha para a Coca-Cola. Mal sabia o que estaria por vir.

Começou então a minha jornada com a redação publicitária, mesmo não sendo formada em Publicidade & Propaganda. Na época, o marketing digital não era tão forte quanto hoje. Desenvolvi ainda muitos textos para peças do meio off-line (como anúncios de revista, outdoors, panfletos, encartes, spots para rádio, roteiros para vídeos, dentre outros). Paralelo a isso, fiz uma Especialização em Comunicação & Marketing, já percebendo que uma pós-graduação nesta área poderia enriquecer meu currículo profissional e me dar algum destaque.

Em 2020, no auge da pandemia, trabalhei de forma remota pela primeira vez. Imediatamente me apaixonei pelo home office. Sozinha em casa, eu passei a me concentrar melhor e isso se manifestou através de um aumento de produtividade.

Aproveitando essa comodidade, aliada ao fato de o mundo inteiro estar em quarentena e, consequentemente, a um clique de distância, me inscrevi em mais uma seleção de Mestrado em Comunicação, sem grandes expectativas. Para minha alegria, fui aprovada — finalmente!

2021. Nas aulas on-line, eu estudava sobre dataficação e plataformização do trabalho. Fora delas, percebia essas relações na prática. Em contato com meus interesses, ainda que de um ponto de vista acadêmico, produzi artigos científicos sobre Black Mirror, Pokémon GO e direcionei a pesquisa da dissertação para uma de minhas maiores paixões, o cinema de horror. Com isso, como quem não quer nada, me peguei pensando: “E se eu escrevesse roteiros de filmes?”. Até o presente momento, esta é uma vontade que foi para o papel, mas ainda não saiu dele.

Minha rotina se resumia a ficar na frente do computador, fosse trabalhando ou estudando. Se eu me arrependo? Claro que não. Faria de novo? De jeito nenhum.

De volta ao presencial, tive meu primeiro burnout — com direito a 15 dias de atestado psicológico — e decidi dar um tempo de agências. Pedi demissão, mesmo sem ter outro emprego em mente. Pouco tempo depois, passei a trabalhar, remotamente, na unidade de marketing de outra software house (dessa vez, uma empresa conhecida a nível global) e o universo off ficou meio de lado. Em compensação, redes sociais e posts para blog ganharam lugares fixos na minha rotina de tarefas.

Tive que me atualizar. Aprender sobre estratégias de SEO, ranqueamento, palavras-chave, tráfego orgânico, content marketing e técnicas de otimização. Algumas delas, confesso, até aplico aqui, intuitivamente, nos meus textos do Medium (como inserção de mídias e links internos), não para ranquear o texto, mas sim para deixar a experiência de leitura ainda mais imersiva. Enfim. Em meio a isso tudo, vez por outra batia a saudade de compor um jingle animado para supermercado, de redigir um spot para carro de som anunciando as ofertas do fim de semana ou, ainda, de elaborar o naming de uma marca, com atenção a todos os elementos que constituem uma nova identidade.

Em 2023, totalmente imersa no digital, me vi diante de uma concorrência não tão criativa, mas muito mais ágil do que eu: a inteligência artificial. Convenhamos, o ChatGPT é só a ponta do iceberg. Eu me arrisco a dizer que daqui a 2 anos, nós redatores não seremos tão necessários às agências, futuras vítimas dos “cortes de gastos” — afinal, é mais viável comprar ou assinar um software do que contratar uma pessoa e lhe oferecer direitos trabalhistas.

Aliás, se você conseguir um emprego hoje em dia que lhe confira direitos, com carteira assinada, 13º, férias e tudo mais, considere-se com sorte. A moda é contratar como PJ ou MEI, como se você fosse um prestador de serviços, mas que no fim das contas deve obedecer a uma hierarquia, ser subordinado, cumprir horários… Essencialmente contraditório. Um trabalhador que emite notas fiscais e usufrui de uma certa “flexibilidade” (entre muitas aspas) que mais favorece o lado que possui maior poder aquisitivo, como sempre.

Não à toa, com essa pejotização compulsória, as relações trabalhistas estão se deteriorando e se tornando cada vez mais frágeis. O índice de rotatividade aumenta e os empregadores não investem na retenção de bons profissionais. No primeiro erro, descartam. Se é você quem pede pra sair, eles só aceitam, sem contraproposta. Prova disso é que em apenas 2 anos, passei por 5 empresas (alternando entre as modalidades CLT e MEI).

O trabalho não faz mais meus olhos brilharem. Quero apenas pagar as contas e nutrir minha reserva de emergência.

Além do mais, muito se fala sobre a importância de um funcionário multifuncional, capaz de realizar autogestão, trabalhar com métricas e mensurar resultados. Como uma pessoa organizada e extremamente metódica, que literalmente todos os dias preenche uma checklist em sua agenda pessoal (sim, sou analógica mesmo), penso que esse controle individual é interessante e necessário… Até certo ponto.

A verdade é que pegar um profissional criativo e fazê-lo gastar boa parte do expediente preenchendo planilhas, executando processos internos e/ou preparando relatórios significa limitar sua imaginação. Isso faz qualquer redator ou designer gráfico perder a paixão, o interesse pelo ofício. Já viu alguém de Humanas gostando de acompanhar números, analisar porcentagens, mapear dados? Bato na tecla de que é essencial contratar alguém qualificado que possa manter o foco somente nesses procedimentos, para assegurar análises assertivas e permitir que os criativos se preocupem “apenas” com suas respectivas produções — que já são demasiado complexas.

Cá estamos. 7 anos se passaram desde que terminei a faculdade e o cenário não é dos melhores. Aos 28, o fantasma da transição de carreira bate à minha porta, ainda não tão urgente, mas com consistência. Dúvidas e receios se traduzem em interrogações cada vez mais pesadas sobre minha cabeça.

O que tento tirar de bom disso tudo é a certeza de que, como minha mãe frequentemente diz, “é só uma fase”. Por exemplo, através dos dois textos a seguir, é possível notar como, em meio aos caminhos que me trouxeram até aqui, passei por outros obstáculos. O primeiro é o desabafo de uma recém-graduada; já o segundo, a expressão da frustração de alguém que desistiu (temporariamente) de fazer um mestrado:

I. Estudos.
II.
Sobre vacas e penhascos.

Sabendo de tudo o que contei por aqui e levando em conta o período em que esses textos foram publicados, você já entendeu que, no fim, as coisas deram certo. Eu alcancei os objetivos almejados e, aos poucos, saí da estaca zero. A diferença é que nesses momentos, eu possuía, ainda que em meu íntimo, um norte. Sabia o que devia ser feito. Recalculei algumas rotas, quando necessário, mas mantive em mente o mesmo destino. E agora? Ainda é possível correr atrás dos meus sonhos? Aliás, que sonhos são esses? Eles são possíveis, me trarão retorno financeiro? Será o suficiente para garantir qualidade de vida à minha família?

Bem, como avisei lá em cima, não há uma solução mágica que responda a esses questionamentos. De toda forma, revisitar os lamentos feitos quando eu apenas sonhava em ter o que já possuo hoje me mostra, num exercício claro e muito eficaz, o poder da persistência. Teimosa e rabugenta que sou, provavelmente voltarei aqui no futuro, me queixando ou desabafando sobre outras adversidades. Até lá, continuarei escrevendo, profissionalmente e casualmente. Afinal de contas, a habilidade de escrever me trouxe até aqui e tenho certeza de que me levará ainda mais longe — seja fisicamente, de um ponto de vista geográfico; ou figurativamente, enquanto atravesso, correndo ou voando, os campos infindáveis da criatividade.

Recado para mim mesma: na dúvida, escreva. Você nunca vai se arrepender disso.

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