Protegida.

Clara Dantas
2 min readMay 12, 2023

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Buscar você na parada de ônibus, à noite, é sempre uma experiência.

Antes, ao lhe deixar na casa de seus pais, eu me sentia relaxada o suficiente para divagar durante o caminho de volta. Agora, vivo a situação contrária: permaneço atenta enquanto lhe guardo e lhe guio rumo ao nosso ninho.

Assim que avisto o veículo encarregado de seu transporte, com o nome “Guararapes” quase apagado, cintilando fracamente em meio ao trânsito noturno, vem o pensamento: ela chegou em paz.

Imagem meramente ilustrativa, encontrada aqui.

Você desce com as bolsas a tiracolo, caminhando em direção à faixa de pedestre. Eventualmente, nossos olhos se encontram e sorrimos juntas, mas separadas pela avenida movimentada.

Levanto a mão, sinalizando para que os carros parem e você caminhe até mim. A depender do caos, atravesso ao seu lado.

Recebo todo o peso de seus pertences, transferindo-o aos meus braços. Computador, anotações, os recipientes que continham sua refeição… Menos o seu cansaço. Isto, infelizmente, eu não consigo carregar.

Vamos andando enquanto você me conta como foi seu dia. Passamos por outras pessoas, que nos olham de diferentes formas. Como cortesia, me posiciono para perto da rua; assim você segue segura, de dentro da calçada.

Mais alguns passos e alcançamos nosso domínio. O ar preenche meus pulmões e sai como um suspiro de alívio. Na cidade grande, não é inteligente se distrair. Tudo acontece muito rápido, cabe uma infinidade de coisas entre poucas batidas de coração.

Ignoramos os prédios altos, onde centenas de pessoas vivem suas próprias rotinas e subimos ao andar mais próximo ao céu, sabendo que o melhor do dia ainda está por vir: o sono tranquilo, sob a vigília do amor.

Dividindo o mesmo colchão, a realidade parece doer menos.

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