Minimalismo digital.
Eu nasci em 1995. Bem perto do fim do século XX.
Isso significa que presenciei, aos poucos, a transição do mundo analógico para o digital.
Interagi com objetos que sequer existem hoje em dia. Por exemplo:
- Comprei disquetes para salvar arquivos;
- Colecionei cartões telefônicos (aqueles usados em orelhões);
- Aluguei fitas VHS para assistir filmes (e tive que rebobiná-las);
- Tive aulas de informática e de digitação;
- Usei Internet discada, pontualmente aos sábados (após as 14h) e domingos;
- Possuí celulares sem câmera… E até mesmo sem tela colorida.
Na adolescência, o ponto alto dos meus dias era abrir o Orkut e o MSN. Mesmo tendo um desktop no quarto, meus horários eram bem regrados, com acessos controlados pela minha mãe.
Até hoje me lembro: 1h durante a semana, geralmente na quarta. Mais 2h no sábado e 2h no domingo. Nunca até muito tarde.
Além disso, eu gostava de ir a lan houses. Às vezes encontrava amigos por lá.
Em todos os casos, vale ressaltar que eu passava poucas horas conectada, com minha atenção totalmente focada. Ao fazer log-off, pronto, estava 100% de volta ao mundo real. Uma relação saudável e equilibrada.
A ideia de “entrar na Internet” ainda me encanta, por mais que eu saiba que é praticamente impossível retomar os hábitos dos anos 2000–2010.
Convenhamos, é super prático usar o iFood para pedir comida ou abrir qualquer aplicativo de banco para mandar um PIX.
É muito melhor enviar mensagens pelo WhatsApp do que gastar os créditos do celular com SMS.
E ligação… Só em última instância ou se for algo muito urgente. Eu sou do tempo dos “3 segundos”, caramba! Mais alguém lembra?
Bem, devido a essa facilidade toda, é muito comum ligarmos os dados móveis assim que saímos de casa. Ficar off? Nem pensar! Quando chegamos em um lugar novo, pedimos logo a senha do Wi-Fi.
E é aí que a coisa começa a desandar, na minha opinião.
Não quero soar moralista nem conservadora. Eu honestamente não me importo se você usa o celular com frequência.
É que semanas atrás, eu estava vendo uma infinidade de vídeos pelo TikTok e acompanhando fofocas pelo Instagram quando me veio o seguinte estalo: Você já calculou quanto do seu tempo é gasto assim?
Vez por outra, reflito sobre a quantidade de informações que recebemos. Arrisco dizer que consumimos mais conteúdo do que pessoas puderam acessar em uma vida inteira. Antigamente, tudo era muito restrito. E de fato, um dos pontos positivos da globalização foi a democratização do conhecimentos.
Veja, minha crítica não é à Internet. De forma alguma. Sou uma comunicóloga (Mestra, Especialista e Bacharela), jamais faria algo do tipo. Minha preocupação é com relação ao uso exacerbado do celular, especificamente.
O minimalismo digital surgiu, para mim, numa tentativa de buscar maior qualidade de vida, principalmente por eu ser uma portadora de ceratocone — uma doença degenerativa que afeta a visão. Um de seus principais sintomas é a forte sensibilidade à luz.
Sendo uma millenial acostumada a fazer tarefas importantes apenas pelo computador, passei a enxergar e utilizar o celular estritamente como uma ferramenta de otimização, voltada para a realização de atividades corriqueiras, típicas do cotidiano (como algumas que citei anteriormente).
No momento, possuo um Xiaomi Redmi Note 8, comprado há 4 anos. Eu costumava ser a usuária que montava diferentes personalizações, organizando os aplicativos por cor, variando entre wallpapers, temas e até mesmo toques (de ligação e de notificação).
Hoje possuo apenas o básico, inclusive a tela inicial e de bloqueio são completamente pretas. Os apps fundamentais estão organizados em pastas. A maior parte das notificações, desativada. Minha paz não tem preço.
Não deixei de usar as redes sociais. Excluí o TikTok, mas mantive o Instagram, que eu utilizo inclusive para fins profissionais. Tenho acessado o Twitter e o LinkedIn somente pelo computador. Aos poucos, consigo programar novos hábitos nesse ritmo — lento, porém consistente.
Também deixei as plataformas de streaming (Netflix, Amazon Prime, HBO Max e Disney Plus) apenas para a televisão. Não quero mais ser a pessoa que só consegue fazer uma refeição se estiver diante de uma tela ou que, ao entrar numa fila, imediatamente puxa o celular para se distrair. Mantive só o YouTube, porque ele de fato simplifica a vida.
Em resumo, sem falso moralismo, minha intenção com essa mudança de comportamento é:
- Me desprender das telas e, com isso, preservar meus olhos;
- Ler mais — só para você ter ideia, entre 05 e 13 de janeiro eu li 2 livros, totalizando mais de 600 páginas;
- Praticar a atenção plena, isto é, viver o aqui e agora;
- Evitar a produtividade tóxica, ou seja, dar um tempo para o meu cérebro descansar, sem estar o tempo todo sendo superestimulado;
- Dormir melhor.
É isto.
Se você gostou deste assunto, recomendo que acesse os canais a seguir e veja os vídeos que tratam sobre minimalismo digital: