Minha maior saudade.

Hoje, 1º de maio, é aniversário da minha avó. Continua sendo, mesmo que ela não esteja mais aqui.

Por mais que eu tente expressar o que nossa relação significa para mim, não dá. Palavras são limitadas.

O que posso dizer, simplesmente, é que nunca conheci — nem irei conhecer — um amor tão sublime quanto aquele. Da minha parte e da dela. Noel Rosa escreveu:

Quando eu morrer, não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela

E assim aconteceu. Minha avó pediu e foi enterrada (aos 61 anos, após muito tempo batalhando contra a leucemia) com uma fita amarela que continha somente o MEU nome — ainda que ela possuísse outros filhos e netos.

Bom, voltando ao dia de hoje, gostaria de pontuar algumas coincidências.

Coincidentemente, esta noite, fui acompanhar uma amiga até sua casa e acabei passando na rua onde eu fui criada. Parei na frente do lugar que outrora fora meu lar. Alguns gatos, que estavam na calçada, se assustaram com minha presença.

Coincidentemente, um deles apareceu de súbito e veio, sem medo, em minha direção. Fiz carinho. Não resisti e segurei no colo. Suas pupilas enormes me encararam com uma expressão séria e curiosa, quase que consciente de algo. Permaneceu assim por longos segundos, até que eu decidi colocá-lo de volta ao chão. Continuei o meu caminho, ainda com os olhos felinos em mim.

Coincidentemente, quando estava retornando sozinha, ainda saudosa, uma prima passou de moto e me viu. Perguntou o que eu estava fazendo ali, sem companhia, tão tarde. Ofereceu carona e me levou até meu prédio, no centro da cidade. Dessa forma, cheguei em segurança.

Tudo isso me fez sentir observada. Cuidada. E, como não poderia deixar de ser, amada.

Minha avó se chamada Áurea, palavra usada para descrever algo magnífico e valioso. Não poderia haver nome melhor. De fato, foram áureos os anos que passei ao seu lado.

Parabéns, vovó. Mesmo separadas, seu amor continua chegando até mim. Espero que a senhora possa sentir o meu daí.