Imagem meramente ilustrativa, encontrada aqui.

A moeda.

Clara Dantas

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Comprei uma carteira nova. Não para substituir a antiga, mas para tornar mais prático o manejo de cartões. Em uma era predominantemente digital, pouco se usa dinheiro físico.

Foi quando a encontrei: minha moeda da sorte.

Minha mãe tinha esse costume de presentear, a mim e ao meu irmão, com moedas brilhantes, mais bonitas que as “normais”. Segundo ela, se cada um de nós mantivesse a sua, mais dinheiro surgiria em nossas vidas. Funcionava como uma espécie de ímã monetário.

Acontece que depois de tantos anos socada em um pequeno compartimento da carteira, a moeda perdera seu brilho. Dado o desgaste do metal, será que perdera também sua sorte?

De imediato, vendo-a tão comum, pensei em colocá-la em um moedeiro, junto às demais. No entanto, meu coração, ainda apegado às intenções de minha mãe ao entregá-la para mim, resistiu.

Dias se passaram e o impasse voltou a ocupar minha mente. Abri a velha carteira e dessa vez me surpreendi ao achar, no mesmo bolso reservado para os 25 centavos da sorte, uma moeda de 1 real.

Era quase como se a pequena relíquia estivesse mostrando: “Ei! Eu ainda funciono! Tome aqui uma prova”.

Bom, se ela atrai mesmo mais dinheiro”, pensei, “que fique junto das suas iguais, que não tenho ideia de quando gastarei. Afinal de contas, mal uso moedas hoje em dia”.

Então, em um total anticlímax, dei um destino poético ao item precioso: aposentei-o, deixando-o em boa companhia, tendo consciência de que qualquer coisa que minha mãe me entregasse me traria sorte, se assim ela dissesse. Bastava eu acreditar.

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